quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Esclarecimentos sobre o Pregomim Pepti

Muitas pessoas tem me procurado com dúvidas a respeito da susbstituição do pregomim de soja pelo pregomim de soro de leite. Então lá vão alguns esclarecimentos. Lembrando que não defendo nenhum laboratório, não sou médica e nem nutricionista (sou estudante de nutrição) e tudo que escrevo é baseado no que estudo e no que dizem os artigos científicos (baseado em evidências), além é claro da experiência em ter um filho alérgico e nos meus conhecimentos enquanto profissional de saúde (sou fisioterapeuta).

O único tratamento eficaz da alergia alimentar, segundo o Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar, é a total exclusão do alimento causador dos sintomas. Alguns estudos apontam o uso de probióticos na terapêutica da alergia como moduladores da resposta imune, sendo que a cepa utilizada na maior parte dos estudos foi o Lactobacillus rhamnosus GG, mas ainda não é consenso e necessita de mais estudos. Em relação à dessensibilização com imunoterapia específica (dessensibilização oral) os estudos são incipientes e ainda não é recomendação no tratamento da alergia alimentar.

O tempo de duração da dieta de exclusão tem como variáveis a idade do paciente ao iniciar o tratamento e sua adesão a esse; os mecanismos imunológicos envolvidos e as manifestações apresentadas; e o histórico familiar para alergia.

Deve-se sempre priorizar o aleitamento materno sendo que a maioria dos estudos mostrou ser eficaz retirar da dieta da mãe a proteína envolvida na alergia. A Academia Americana de Pediatria (APP) orienta retirar da dieta leite de vaca, ovo, peixe, amendoim e a Sociedade Européia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (ESPGHAN) orienta retirar apenas o alérgeno envolvido.

Ainda segundo o consenso brasileiro, as fórmulas ou dietas enterais semi-elementares são recomendadas quando existe a impossibilidade da manutenção do aleitamento materno ou quando a criança apresentar alergia múltipla com baixa adesão ao tratamento ou grave comprometimento nutricional. Mas volto a repetir o aleitamento materno deve ser priorizado! Lembrando que o que cura a alergia é uma dieta de exclusão correta e não o uso de fórmulas especiais!

Quando então a criança não está senda amamentada a recomendado é a utilização de fórmulas hipoalergênicas. “Segundo a AAP, para ser considerada hipoalergênica, tal fórmula não deve causar reações alérgicas em até 90% das crianças com alergia ao leite de vaca, comprovação esta realizada em testes de provocação duplo-cego controlados com placebo, em estudos prospectivos e randomizados.”

Pronto, chegamos aos hidrolisados. Atualmente no mercado temos hidrolisados (que são fórmulas infantis hipoalergênicas onde a proteína está quebrada, diminuindo o risco da alergia, são chamados de extensamente hidrolisados, compostas por peptídeos e aminoácidos) à base de proteína de soja (pregomim e alergomed) e à base de proteína do soro do leite de vaca (alfaré, pregestimil e pregomim pepti). E aproveitando.... Fórmulas parcialmente hidrolisadas (NAN HA) não são recomendadas em alergia alimentar pois contem proteínas do leite intactas e potencial alergênico. As fórmulas à base de proteína isolada de soja (NAN SOY, Aptamil, Enfamil, Isomil, Nursoy) não são recomendadas no tratamento da APLV pela ESPGHAN e a APP recomenda apenas quando a alergia é IgE mediada.

As fórmulas extensamente hidrolisadas apresentam eficácia em cerca de 80 a 90% dos casos. Significa dizer que no tratamento da alergia em crianças não amamentadas utilizam-se os extensamente hidrolisados com uma grande margem de segurança, no entanto, em cerca de 5 a 10% das crianças essa fórmula ainda apresenta potencial alergênico. Nesse caso deve-se partir para as fórmulas à base de aminoácidos (neocate e aminomed). Também se utiliza fórmula à base de aminoácidos livres quando a criança apresenta síndrome de má absorção grave com intenso comprometimento da condição nutricional.

Esse é o fluxograma do tratamento da alergia em crianças não amamentadas recomendado pela SBP:




As fórmulas à base de soja vêm tendo sua segurança questionada há certo tempo, seja as fórmulas com a proteína polimérica (proteína isolada) ou as extensamente hidrolisadas. No próprio consenso encontramos esse parágrafo:
“As fórmulas à base de proteína de soja apresentam algumas diferenças em sua composição quando comparadas a fórmulas poliméricas à base de leite de vaca: maior conteúdo protéico (2,45 a 3,1g/100 kcal) devido ao menor valor biológico de suas proteínas, são isentas de lactose, contêm fitatos (cerca de 1 a 2%) e oligossacarídeos que interferem na absorção do cálcio, fósforo, zinco e ferro (os níveis de cálcio e fósforo, por exemplo, são superiores em 20% às fórmulas com proteína do leite de vaca), contêm glicopeptídeos da soja interferem no metabolismo do iodo, conteúdo mais elevado de alumínio e presença de fitoestrógenos (isoflavonas, genisteína e daidzeína). O National Toxicology Program of US Department of Health and Human Services (http://cerhr.niehs.nih.gov/chemicals/genistein-soy/genistein/genistein-eval.html), nos Estados Unidos, realizou recentemente reunião de especialistas e concluiu que a possibilidade de eventos adversos a longo prazo ou discretos sobre o desenvolvimento ou reprodução humana não pode ser descartada, isso porque embora eventos dessa natureza não tenham sido descritos após mais de 40 anos do uso de fórmulas naquele país este assunto nunca foi estudado de forma adequada.”

Em muitos países às fórmulas à base de soja não são recomendação para lactentes e crianças. Seguindo o que apontam as pesquisas científicas, a Support retirou do mercado o pregomim à base de soja (veja justificativa no post sobre a substituição). O pregomim à base de soja já não estava sendo comercializado em outros países (informação dada pela Support) e essa ação chegou ao Brasil também.

Realmente existem crianças que apresentam alergia aos extensamente hidrolisados. Meu filho, por exemplo, sangrou com pregomim à base de soja e evolui com lesão intestinal importante com grande demora em sua recuperação. Existem também crianças que reagem a um tipo específico de extensamente hidrolisado. Algumas crianças toleram o hidrolisado de soja e não toleram o de leite de vaca, e vice versa. Nesse caso as crianças que apresentam reações aos hidrolisados não ficaram sem sua terapêutica! Seguindo o fluxograma proposto pela SBP elas iram utilizar as fórmulas à base de aminoácidos livres! O uso de fórmulas à base de aminoácidos livres não atrasa a cura! Quando bem indicado, e nesse caso a indicação é essa, a criança será beneficiada. Não esqueçam que o tratamento é a dieta de exclusão! Mas temos que ofertar os nutrientes de acordo com as necessidades nutricionais de cada faixa etária, aí entram as fórmulas em comunhão com a introdução complementar (que é assunto de outro post).

Estou devendo o envio da carta às pessoas que me pediram mas a carta foi transcrita na íntegra, é só copiar! De qualquer maneira estarei enviando hoje.

Em relação à retirada do pregomim de soja do mercado a mesma não aconteceu de maneira abrupta. Acredito que o problema tenha sido dos profissionais que assistem as crianças que não informaram aos familiares dos seus pacientes.

Se algum médico ou nutricionista quiser fazer alguma colocação a respeito do tema é só me procurar (associacaobaianaalergia@yahoo.com.br). Deixo aqui um espaço aberto para todos na discussão científica a respeito da alergia alimentar. As opiniões sempre serão respeitadas, mas só publicarei se forem baseadas em evidências científicas. É por conta de muito “achismo” e pouca ciência que vemos tantas barbaridades no manejo da alergia alimentar.

*As informações científicas desse texto tem por fonte o Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar

Um comentário:

  1. Achei excelente seu artigo, mais ainda fiquei com uma duvida o pregomim pepti pode ser substituido pelo aptamil pepti? Minha filha ja tomou os dois tipo de aptamil, mas quando o aptamil foi substituido pelo alergomed na farmacia cidadã ela rejeitou a troca e estou tendo que comprar o pregomim pepti novamente na farmacia comercial. Vi que tinha essa opçao mas fiquei confusa quando vi a descriçao da bula. Voce poderia me ajudar?

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