segunda-feira, 2 de maio de 2011

Refluxo Gastroesofágico secundário a APLV

Por Juliana Silva

Normalmente, quando ingerimos os alimentos eles são direcionados da boca até a faringe e, logo após, são encaminhados para um órgão chamado esôfago, como podemos visualizar na figura 1. É através deste órgão que os alimentos são impulsionados até o estômago por movimentos chamados de peristálticos.

Fig.1

Na junção do esôfago e do estômago existe uma estrutura chamada de esfíncter esofágico inferior - cárdia (Fig. 2). Em condições normais, ela se abre, com a aproximação do bolo alimentar, permitindo sua passagem para o estômago e, logo em seguida, se fecha, não permitindo assim que os sucos gástricos (que são ácidos) passem do estômago para o esôfago.



O que acontece é que, em condições adversas, esse esfíncter pode perder a elasticidade, permanecendo aberto, ou seja, ocorre essa indesejada passagem de sucos gástricos para o esôfago, causando o sintoma típico, que é a azia ou queimação. Esse sintoma ainda pode surgir acompanhado da regurgitação, que é o retorno de uma parte do conteúdo alimentar até a faringe.

A suspeita da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) ocorre quando há repetição desses sintomas numa frequência de, no mínimo, duas vezes por semana num período de quatro a oito semanas. O diagnóstico se dá com a observação do quadro clínico do paciente, associada ao resultado de alguns desses exames, que podem estar sendo solicitados: radiografia de esôfago, estômago e duodeno (REED)1 , endoscopia digestiva alta e biópsia de esôfago2 , PHmetria esofágica3 e impedanciometria intraluminal esofágica4.

A DRGE pode ser classificada como primária ou secundária, a depender da sua causa. A primária é decorrente de um distúrbio funcional do trato digestório, já a secundária ocorre quando há alterações estruturais, infecciosas, metabólicas, neurológicas ou alérgicas que são responsáveis pelo retorno do conteúdo gástrico ao esôfago. No caso da APLV (alergia a proteínas do leite de vaca) pode ocorrer a DRGE secundária a alergia o que muitas vezes é complicado de diferenciar, pois alguns sinais clínicos observados em crianças com DRGE primária são bastante semelhantes aos que apresentam a DRGE secundária a APLV , alguns deles são: irritabilidade, choro excessivo, dificuldade de ganho de peso, recusa alimentar e distúrbios do sono.

Como não há um exame complementar que possa diagnosticar a associação da APLV com o refluxo gastroesofágico, utiliza-se na prática médica o teste terapêutico. Este teste consiste na retirada do alérgeno, que no caso é o leite de vaca, derivados e compostos similares, e uma posterior observação da melhora dos sintomas observados.

É muito importante que se tome alguns cuidados quando o seu filho está apresentando este tipo de problema. Para os bebês que ainda amamentam, é ideal que se realize as mamadas em posições que facilitem a deglutição e não favoreça o refluxo, um exemplo disso é a posição denominada de cavalinho. Para realizá-la, basta posicionar seu bebê sentado de frente para você, com a barriga encostada na sua e boca direcionada ao mamilo e aréola, como se pode observar na figura a seguir.



Para aqueles que já consomem outros alimentos, é importante ter cuidado com aqueles que são capazes de aumentar a acidez gástrica, tais como alimentos muito gordurosos, café, frutas cítricas, tomate e produtos a base de tomate e, portanto, devem ser evitados sempre que possível. É importante também evitar refeições muito volumosas e manter a criança ereta após a refeição. Vale ressaltar que as mudanças na alimentação da criança devem ser adequadas as suas necessidades nutricionais, compatíveis com a sua fase de crescimento e desenvolvimento.

Existem medicamentos que podem diminuir a elasticidade do esôfago, como anticolinérgicos, adrenérgicos, xantinas, bloqueadores de canais de cálcio e prostaglandina, complicando ainda mais o refluxo. Por isso, deve-se evitar, sempre que possível estes medicamentos, utilizando-os, se necessário, unica e exclusivamente sob prescrição e acompanhamento médico.
Com essas dicas, você perceberá a melhora dos sintomas no seu filho, que sempre deverá ser acompanhado por um médico e nutricionista para melhor assisti-lo.

1 Radiografia de esôfago, estômago e duodeno (REED): exame bastante utilizado na avaliação do refluxo que avalia as anormalidades anatômicas, distúrbios da digestão, obstrução intestinal e distúrbios da motilidade; sua sensibilidade é de 50 a 65%.

2 Endoscopia digestiva alta e biópsia de esôfago: exame invasivo, que em crianças exige sedação ou anestesia para ser realizado; ele não diagnostica o refluxo, mas sim a esofagite a ele associada. A presença de erosões e/ou ulcerações na parte terminal do esôfago diagnostica a presença de esofagite, que é uma inflamação na mucosa desse órgão.

3 PHmetria esofágica: teste utilizado para avaliar a exposição ácida do esôfago, que é medida através da frequência e duração dos episódios de refluxos ácidos ocorridos durante 24 horas. A partir disso, observa-se o percentual de tempo em que o pH esofágico é menor que 4 ( chamado índice de refluxo). O percentual estando acima de 4% do tempo total do exame indica refluxo patológico. É importante salientar que este exame não substitui a endoscopia digestiva alta para o diagnóstico da DRGE, mas permite informações complementares, já que nem todos os pacientes com doença do refluxo gastroesofágico tem esofagite.

4 Impedanciometria intraluminal esofágica: é uma nova técnica baseada na mudança da resistência elétrica nos vários segmentos esofágicos decorrentes da passagem do bolo alimentar, acompanhando o movimento de fluxo normal e também o movimento de refluxo ( sentido contrário ao fluxo normal). Este método associado à pHmetria esofágica (impedâncio-pHmetria) tem sido a técnica preferencial para medir o refluxo gastroesofágico ácido, fracamente ácido e não ácido, além de identificar a natureza física do mesmo (líquido, gasoso ou misto).

Referências consultadas:

http://stimulusense.com.br/Endoscopia%20digestiva%20alta%20em%20pediatria.pdf

http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=3675

http://www.jped.com.br/conteudo/00-76-S218/port.pdf

http://www.jped.com.br/conteudo/04-80-04-291/ing.asp

http://www.gastronet.com.br/fisiolog.htm

http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/084.pdf

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